novembro 06, 2010

Um eléctrico chamado desejo

                                                                                                             
A peça Um Eléctrico Chamado Desejo esteve em cartaz em Lisboa. Li-a quando frequentei a universidade, numa altura em que praticamente devorei as obras de Tennessee Williams. A actriz Alexandra Lencastre e o actor Albano Jerónimo dão corpo e voz às duas principais personagens, Blanche DuBois e Stanley Kowalski. Inesquecíveis figuras do texto dramático, também a sua representação no cinema, a preto e branco filmado, foi fulgurante, com os actores Vivien Leigh e um jovem Marlon Brando a lançarem-nas definitivamente para a posteridade.
Devo dizer que o facto de ter visto o filme terá contribuído para a minha paixão por tal história. E a personagem de Stanley Kowalski tornou-se bem mais "atraente" devido à interpretação magnética de Marlon Brando. Gostando tanto do actor, ficou difícil vê-lo como detestável...

Bem que gostaria de rever esta peça, agora em palco, do lado de cá, obviamente. Rever o confronto entre uma senhora educada, refinada,  mas também desiludida, fantasista e decadente, e o seu jovem cunhado, rude, sem refinamento, sensual e quase animalesco. E rever como esse confronto comporta uma carga sexual altamente considerável, de como os opostos se atraem, culminando essa relação na violação...mostrando Stanley o seu carácter intempestivo, bruto, para dizer o mínimo, ao expoente máximo. E relembrar a figura de Stella, a irmã mais nova de Blanche, casada com Stanley, que muito dócil, perdoa os comportamentos do marido devido à química sexual que existe entre eles e mantendo-a , dessa forma, presa a um marido algo violento.

O facto de Blanche ser sulista ( a história passa-se em Nova Orleães) e o seu cunhado ser originário da Polónia também parece põr em evidência a confrontação entre dois mundos, um estilo de vida prestes a desaparecer e outro a emergir, com a alteração e conflitos próprios dos fenómenos de imigração nos Estados Unidos. Uma era algo colonial que termina e outra mais urbana, trabalhista, que começa. Sonhos, práticas e perspectivas de vida em tudo diferentes.

Penso também que, sendo Williams homossexual, terá pintado, neste confronto emblemático e simbólico,  o homem com cores algo negativas e ter-se-á identificado com a mulher. Apesar dos seus ares e verdades serem também falsas, a sensibilidade de Blanche está lá, e não há como a não apreciarmos.  Quanto a Stanley, é básico e até sem moral, mas poder-se-á (de verdade?) dizer, também, autêntico. Nada como ver ou rever a peça para tirar as nossas próprias conclusões. Em palco ou na tela Blanche perde irremediavelmente, mas dentro do nosso coração?

                                      

2 comentários:

  1. Não vi, não li...apenas ouvi referências, mas deste-me vontade de conhecer.

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  2. Muito bem escrito o teu texto! Dá vontade de ir logo a correr procurar esse filme.
    Sempre ouvi falar deste filme, cujo título considero muito apelativo, mas nunca cheguei a conhecê-lo... De facto, os opostos atraem-se! Eu própria já vivi histórias de "atracção entre opostos", que acabaram por não ter futuro, tal como no filme! Marla

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