Tenho reparado, com muito agrado, que há visitas do Brasil a este blogue. Por isso achei bem deixar aqui algumas impressões sobre a minha própria visita a esse país de língua irmã. Este texto é então, e sobretudo, para "você".
Começo por dizer que me emocionei várias vezes (talvez por coincidir com a sensibilidade por uma incipiente gravidez, que não veio a ter sucesso, de resto). Nem sei bem porquê - ou saberei? - mas realmente senti vontade de chorar em vários momentos, por pura emoção. Pela natureza e paisagens que observava - as bananeiras, a cana de açúcar, os coqueiros, os mangais, as cachoeiras, pelas pessoas - simples, na sua maior parte, pois visitei o estado de Pernambuco, algumas de rosto sofrido, disponíveis, até quase servis e inocentes algumas também, pela terra e a sua incrível variedade - numa mistura de verde, praia, beleza, pobreza, pessoas a pé por caminhos longos e desabitados, casas com grades e do tamanho de uma cozinha, mas também belos palacetes à beira-mar e hotéis maravilhosos, brancos, negros, mulatos, matinais sucos de frutas, pequenos mas aventureiros safaris, peixe grelhado ao ar livre e gambas consumidas nas cadeiras da praia, enfim, um mosaico geográfico físico e humano verdeiramente emocionante, contrastante e intenso. Ao mesmo tempo descontraído, a convidar ao relaxamento e à autenticidade. Só na cidade de Recife tive um "glimpse", um vislumbre europeu, do qual estou, às vezes, farta. O chic do hotel a lembrar-me a etiqueta social, que muitas vezes não me apetece. O resto - Porto de Galinhas, a maravilhosa Olinda, Primavera e outras, era, foi, uma viagem ao diferente, ao desconhecido, à história, a qualquer coisa que já deixámos ou fizémos (pouco, pensei por vezes), nós, Portugal, desde o tempo das espantosas descobertas.
Enquanto viajava relembrava, quase automaticamente, o Brasil que nos foi dado a ver através das novelas, especialmente duas - Gabriela e Escrava Isaura. Eu era tão pequena mas apaixonei-me por Ilhéus, pela Malvina e tenho até um texto dedicado a essa telenovela, marcante do lado de cá. Foi a primeira e também eu não a esqueci mais. Na segunda recordo a crueldade da escravatura, heranças do colonialismo português, a revolucionária Lucélia Santos, a leitura do livro homónimo. Enquanto viajava, dizia, olhava e imagens atravessavam a minha mente e misturavam-se, criando-se e recriando-se histórias e espaços entre o ficcional e o real. Ficava em silêncio e sentia. Sentia e emocionava-me, numa experiência transatlântica, histórica e até literária. Uma mescla cultural, portanto, que despertava peculiarmente as emoções.
Não tenho autoridade nem conhecimento para falar deste país imenso, rico e contrastante. Registo aqui uma mera impressão. Não conheço a Cidade Maravilhosa, nem Brasília, São Paulo, Porto Alegre nem a região amazónica, nem Fortaleza nem fui à Baía de Amado. Não conheço, in loco, muitas maravilhas nem provavelmente problemas da realidade brasileira. Mas posso dizer que o bocadinho do país que vi me tocou profundamente. O Brasil, entre momentos fantásticos e realidades menos atractivas, com em qualquer lado, ficou cá dentro, na alma. Talvez por já lá estar desde há muito tempo...
Fatinha, tenho familiares brasileiros e adorava ir lá. Todos carregamos dentro de nós um país e imagens a ele ligadas...como não ter no coração um país lindo que é emoção em cada sentido. Gosto do Brasil que há dentro de ti :) Gi
ResponderEliminar"Oh, que coisa + linda...kd ela 'escreve',......... e o mundo inteiro se enche de graça......e pára só para a 'ver escrever"... (apenas 1 "adaptação" da minha parte, mas acertas em cheio!!!!!! K coisa gostosa !!!! É o Brasil espraiado nas tuas palavras!!!! ) AP
ResponderEliminarGosto mesmo muito de ler os teus pensamentos/reflexões... Identifico-me imenso com eles!!!! Lília
ResponderEliminarQue lindo artigo sobre um país do meu coração! Amei, amo e vou continuar a amar... O Brasil, apesar de distante, sempre esteve muito ligado a nós, portugueses,através das novelas, das suas personagens míticas, das suas paisagens deslumbrantes, da sua música maravilhosa, dos seus poetas... Eu não me canso de ouvir Caetano, Tom, Vinícius,... É um sotaque lindo! Tenho vontade de mudar para lá, mas falta-me coragem. Apesar dos muitos atrativos, há sempre o lado menos bom: a violência, a insegurança,a incerteza,... Quem sabe um dia? Marla
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