Procuro não comentar a actualidade, neste blogue, por várias razões. Nem fui nunca admiradora de Angélico, pelo contrário, detestava o estilo que ajudou a criar, já para não falar da série que o lançou. Mas a morte do jovem actor, da maneira que ocorreu, levanta algumas reflexões. Entre o público fã, maioritariamente adolescente, estava um míúdo na vigília , dos seus 14, 15 anos a chorar que, interpelado pela repórter, disse "Ele era um exemplo para todos nós." Oh pá, isto é que não, penso eu automaticamente. Bem sabemos que os fenómenos de idolatria que se verificam na adolescência e primeira juventude explicam estes exageros de linguagem mas há que destrinçar a massa de que se faz um ídolo daquela de que se faz um exemplo.
Os ídolos situam-se quase sempre nos sectores da música, do cinema, do desporto, da televisão. São pessoas que quase sempre (nos) seduzem por uma imagem que constroem - de beleza, de juventude, de moda, de rebeldia, de irreverência. Contudo, muitos dos seus comportamentos, como se sabe, estão longe de serem um exemplo. Ou seja virtudes como a responsabilidade, o civismo, o empenho, a constância, a educação, o respeito pelo outro, muitas vezes passam-lhes completamente ao lado. Até alguém que gosta do brilho destas estrelas, reconhece que muitas das suas atitudes e percursos de vida pessoal não fazem parte do seu projecto de vida. Podíamos até enumerar aqui muitos nomes, nacionais e internacionais.
Daí que apreciar a sua música ou a sua arte, ou apenas o seu estilo, corpo ou rosto, não seja (nem deve ser) a mesma coisa do que lhes apreciar o carácter ou a conduta de vida e querer viver algo semelhante. Sem moralismos, opções de imaturidade familiar, irresponsabilidade laboral, drogas, pedofilia, agressão, violência, crime, excentricidades perigosas e (auto)destrutivas afiguram-se como características não desejáveis para uma saudável e feliz existência, ainda que estas noções possam ser absolutamente relativas. Mantenhamos estas celebridades como ídolos de quem somos fãs por uma ou outra razão mas não lhes chamemos propriamente exemplos.
O culto da velocidade extrema em espaços civis é irresponsável, egoísta e imaturo. Filmes como Velocidade Furiosa dão-lhe um ar glamoroso (já repararam com as bandas sonoras glorificam tantas vezes actos de insanidade ou violência?) mas fora da ficção é condenável e, pior, traz riscos irreversíveis. Como no exemplo deste jovem , cuja morte me chocou, é certo, pela sua juventude e pela dor que deve representar para os seus pais e amigos, mas que, reafirmo, não é exemplo para ninguém.
Grande reflexão! :) gostei... Faty tás de parabéns! Anabela Silva
ResponderEliminarMais uma vez, acertaste...beijo...ah e continua. Sónia Carvalho
ResponderEliminarFaty, estou completamente de acordo com esta reflexão... Excelente!!! Realmente "ídolo" não é sinónimo de "exemplo"... E o Angélico não foi exemplo..., neste último momento da sua vida..., mas torna-se, ao menos, motivo de reflexão, sobretudo, para os jovens! Paz à sua alma! Edurado Coelho
ResponderEliminarOlá!!! Gostei muito da tua reflexão. Tal como tu e se calhar grande parte da minha e da tura geração, nunca fui fã do Angélico. Tendo uma filha adolescente já tive a minha dose de "secas" e azáfama para andar atrás dos D'ZRT. Essa fase já passou (graças a Deus!), mas ficou a consternação pela morte de um jovem.
ResponderEliminarNo entanto, tem sido difícil tirar alguma conclusão. A ser verdade que vinha com excesso de velocidade e sem cinto, não foi exemplo nenhum. Mas a ser verdade que tinha cinto, vinha dentro da velocidade normal (confesso que raramente conduzo a 120 km numa autoestrada), que não consumia drogas nem álcool, bom aí o caso muda de figura... Fica a dúvida!
Ana Gonçalves
Sempre pertinente e oportuna...numa escrita irrepreensível :) Gi
ResponderEliminarNão conhecia o falecido, não fazia ideia de quem era ou do que fazia ou pensava. Mas reconheço que só pode ter sido alguém importante, simplesmente por ter provocado uma reflexão como esta...
ResponderEliminarjoao de miranda m.
Concordo plenamente com a distinção de ídolo e exemplo. Mas para os jovens estes dois termos confundem-se. Apesar de muitos famosos serem "bad boys", há quem os admire e até considere, por vezes, um exemplo. Eu também não era fã do Angélico ou dos "Morangos com Açúcar" (julgo que assisti a alguns episódios inicialmente, só para conhecer), mas também não me identifico com a série, pelo simples facto de já não ser adolescente. Apesar das críticas e da falta de qualidade nos últimos anos(diz-se), tem sido uma série que muitos jovens acompanham e onde aprendem algumas coisas relacionadas com o seu dia a dia. Em relação ao acidente, soube-se recentemente que o cantor usava cinto de segurança, mas estou certa de que pecou na velocidade e causou uma tragédia irreparável.Lamento profundamente a contínua irresponsabilidade dos jovens (e não só) nas estradas portuguesas. Urge uma política de consciencialização e prevenção dos acidentes rodoviários! Marla
ResponderEliminarConcordo com o facto de distinguirmos um ídolo de um exemplo. Aliás, não há ídolos exemplares. Aquelas pessoas que devemos considerar exemplos são os nossos pais, tios ou avós, se assim se justificar.
ResponderEliminarMas, em relação ao Angélico não ser um exemplo, não concordo nada. A única coisa que lhe poderíamos apontar é o excesso de velocidade (mas nem isso está totalmente esclarecido, apesar de já ter passado mais de um ano). E se se informar acerca dele, da carreira dele e da vida dele, perceberá que ele era mesmo um exemplo para os jovens e tinha todas as razões para o ser. Não leia apenas revistas cor-de-rosa, não se deixe iludir pela imprensa.
Bom, Ana, parece-me que quem leu as revistas cor de rosa foi mesmo a Ana. :) Isso para saber tanto da vida dele - eu cá não sei nada, está a ver? Iludida não sou nem nunca fui, apenas reflito, vale o que vale. Se a Ana acha que ele foi um exemplo (deus dê paz à sua alma), e respeitando a sua opinião, já me parece que isso, sim, é ilusão. Ou estarei enganada? :) Obrigada pela visita.
ResponderEliminar