Caro leitor, deixe-me dizer-lhe uma coisa. Se estiver a sentir um grande mal-estar com o seu presente, então você está pronto para se enamorar de novo. Está naquela situação em que se quer ver livre de uma velha vida para começar uma nova. E só o amor poderá levá-lo à consecução desse novo projecto de vida. Quem assim expõe a teoria do enamoramento como estado nascente é Francesco Alberoni, sociólogo italiano, nos seus belíssimos livros Amo-te e Enamoramento e Amor, este anterior.
Defende o autor que não conseguem apaixonar-se as pessoas profundamente deprimidas, por falta de impulso vital. Mas aquelas em que há um profundo descontentamento com o actual, tendo havido ou levando a rupturas, que estão cheias de impulso vital mas que está ou tem estado de alguma maneira sufocado, por várias circunstâncias, então essas sim estão em terreno movediço para viverem um novo amor.
Pois só um novo amor as pode redimir. Só um novo amor as pode levar ao encontro das suas novas aspirações, dos seus novos planos, das suas novas metas. Encontrando, muitas muitas vezes, alguém que também se esteja a libertar para uma existência diferente, que esteja desiludido, que sinta considerável para não dizer enorme desconforto na sua vivência actual. O encontro de duas pessoas assim leva, quase sempre invariavelmente, a uma fusão de dois projectos de vida. Sendo este o grande ponto de união entre dois seres que se enamoram e querem construir uma vida em comum. Juntos, querem por fim ao que está para trás, acabar com aquilo que não os fez feliz, cortar com laços ou modus vivendi com os quais não se identificam mais.
Explicável. A pessoa que está feliz não se apaixonará de novo no auge dessa felicidade. Tem de haver uma espécie de infelicidade, uma recusa daquilo que está a viver, uma insatisfação gritante prestes a rebentar. Assim está a enviar sinais aos outros, de que procura outra forma de existir, de se perpetuar no tempo. É quase a teoria de "O Segredo", a de que se recolhe aquilo que se envia ao mundo. Então, certamente que um novo amor surgirá. Alberoni também diz que esta restruturação poderá ser preenchida pela conversão religiosa. Assim não sendo, só o enamoramento poderá salvar o indivíduo de uma aniquilação do eu, de uma morte psicológica, de um estado vegetativo em termos afectivos e mentais.
Voltando ao princípio, leitor, olhe à sua volta... Se estiver a sentir evidente mal-estar com o presente da sua vida pessoal, então...atenção. Precisa de um estado nascente que o (re)desperte, de um amor novo que o projecte em direcção aos seus novos sonhos. D"Um movimento colectivo a dois". Pode, nesta situação, enamorar-se verdadeiramente. Para alguns, será hora...
"Se estiver a sentir um grande mal-estar com o presente, então você está pronto para se enamorar de novo" Fatinha, olha que isto pode dar num movimento de massas sem precedentes! eheheheh... a sério, gostei! big kiss! :) Luisa Alc.
ResponderEliminarSim Luísa, Alberoni defende o enamoramento como um acto político : "movimento colectivo a dois". É o almejar de uma nova era a titulo pessoal (e não económico:)) Faty
ResponderEliminarO tio Moisés Caldeira tem oitenta e seis anos e não está nada deprimido. Tem seis ou sete leiras de vinho, outras tantas de pão, alzheimer e uma paixão efervescente. Mas parece que a miúda que ele ama incondicionalmente não lhe corresponde, alegando que ele é demasiado velho para ela.
ResponderEliminar-Mas que idade tem a miúda, Ti' Moisés?!
-Fez 72 no mês passado...
joao de miranda m.
(Belo texto. Gostei muito. Gosto muito da tua seriedade a tratar os assuntos.)
Hehehe és um brincalhão:) Mas duvido que o tio Moisès queira mudar de vida:)
ResponderEliminarOk, aqui o assunto é sério:) Este profundo mal-estar, esta insatisfação na vida pessoal é mais comum do que se possa pensar. Há pessoas a desejarem viver de outra forma...É campo minado para que o novo amor rebente. Ler Alberoni é entender isso mt bem,aqui é só o relato do que me ficou dessas leituras, há muitos anos. Bjinho, amigo. Faty
Achas que o profundo mal-estar e a insatisfação são condições para o despertar de um novo amor? Vejo as coisas (se calhar mal) de maneira diferente, ou seja, penso que a pessoa para conhecer um novo amor deve estar predisposta a... E parece-me que essa predisposição é uma consequência de problemas resolvidos...:)Lília
ResponderEliminarGostei muito, Faty. Como já nos habituaste, dissecaste outro assunto do lado dos afectos de uma forma incisiva, mas tão bem trabalhada. Isabelinha
ResponderEliminarMas no teu caso Lília estavas de facto a sentir insatisfação e mal -estar daí a situação criada(...) Então estás pronta a..., à partida:) Não basta estar predisposta, milhoes de pessoas estão e não encontram ninguém. É preciso haver uma ruptura forte com o passado, querer encetar um nova forma de existir, querer iniciar um novo projecto (colectivo a dois) de vida... E assim é, de facto. O verdadeiro amor que nasce da recusa do status quo... Faty
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